sexta-feira, 28 de maio de 2010

A FELICIDADE EM EPICURO

A FELICIDADE EM EPICURO


*Maria Ivanilda Souza da Silva



Epicuro (341-270 a. C), em uma carta escrita a um de seus discípulos (Meneceu) faz uma das mais belas homenagens a filosofia, diz ele: “Que nem o jovem se demore a filosofar, nem o velho de filosofar se canse. Não somos nem muito jovens nem muito nem muito velhos para a saúde da alma. Quem diz que a idade para filosofar ainda não chegou, ou já passou, é semelhante a quem diz que a idade para ser feliz ainda não chegou, ou já passou”.

A filosofia nessa interpretação faz parte da vida de qualquer ser humano, é uma atividade que pode ajudar tanto ao jovem a pensar de forma crítica o mundo, como as pessoas de mais idade a se sentirem eternamente jovens e úteis. A capacidade de filosofar, segundo Epicuro, é essencial para que o homem possa alcançar a sua felicidade.

O referido filósofo põe a felicidade como um problema fundamental dos indivíduos. É preciso que pensemos sobre tudo aquilo que podemos fazer para atingir a felicidade, pois se a temos, possuímos tudo, se não a temos, fazemos de tudo para possuí-la.

Para atingir a tão desejada felicidade, Epicuro propõe um tetrapharmakon (quatro remédios do sábio). Esse remédio é a filosofia que possibilitará aos indivíduos curar-se de alguns temores que são vãos, e consequentemente atrapalham no alcance de uma vida feliz.

O primeiro temor que é preciso se libertar é o temor em relação aos deuses, pois estes são seres perfeitos e jamais se voltariam para seres tão imperfeitos e incompletos como os humanos, os deuses não interferem em nada na vida dos indivíduos, nem para o bem nem para o mal, por isso, não é preciso temê-los ou prestar-lhes oferendas. A vida humana com todas as suas peripécias depende exclusivamente do próprio homem, não se deve então, pedir favores aos deuses, pois estes jamais atenderão. Em conseqüência do que foi exposto, a felicidade depende exclusivamente de cada indivíduo, não podendo ser entendida como um consentimento divino.

Outro temor infundado é o medo da morte, esta segundo Epicuro não representa nada, não pode ser concebida como um mal, pois este só poderia ser constatado pela sensação e a morte é exatamente a ausência de sensibilidade, ou seja, quando estamos vivos não temos como experimentar a morte, e quando morremos, não temos mais como descrevê-la. Portanto, não cabe aos seres humanos ocupar-se com esse tipo de temor, precisamos nos deter apenas no aspecto da existência; o que podemos fazer para viver intensamente cada minuto da nossa vida.

O terceiro elemento essencial para alcançar a felicidade é a capacidade de saber suportar as dores e as mazelas que podem atingir a vida do homem, é necessário adquirir serenidade e tranqüilidade de espírito para encarar as dificuldades da melhor maneira possível. E esta pode ser considerada, de certa forma, uma percepção trágica da existência, ao propor que é preciso encarar a vida como ela realmente é, sem duplicação, sem idealizações. A vida humana é composta por momentos bons e ruins, alegres e tristes, se tivermos consciência disso, saberemos acolher a vida com mais alegria, em qualquer circunstância que seja.

Por fim, é possível atingir a felicidade, desde que, esta seja direcionada para aquilo que possamos alcançar. Talvez o grande problema humano, seja o fato de colocarmos a nossa felicidade em algo que não nos é disponível, objetivamos coisas inatingíveis, vivemos metafisicando, colocamos a felicidade em esperanças futuras, mas dificilmente a colocamos onde realmente estamos. Epicuro tem uma proposta bem simples para atingirmos a felicidade, basta que a coloquemos naquilo que esteja a nossa disposição, como por exemplo, na família, nos amigos ou em alguns objetos materiais que realmente sejam necessários para a nossa sobrevivência.

Portanto, a vida feliz, vai depender da forma como o homem for capaz de conduzir a sua própria existência, das escolhas que ele fizer. Para sermos felizes basta olharmos com mais atenção para aquilo que está a nossa volta e não nos apavorarmos com falsos temores, pois estes só trazem intranqüilidade ao nosso espírito.



*É filósofa, professora e vice-presidente da Academia Acriana de Filosofia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não vai comentar? Mas lembre-se, você é responsável pelo que diz!