sábado, 17 de abril de 2010

SÓCRATES E A CONCEPÇÃO DO FILÓSOFO EDUCADOR

SÓCRATES E A CONCEPÇÃO DO FILÓSOFO EDUCADOR


*Maria Ivanilda Souza da Silva

A filosofia socrática tem como característica principal ser antropológica, do grego anthropos (homem) e logos (teoria ou ciência), nesse sentido, ela se constitui como um estudo do homem.

Sócrates é considerado como um marco divisor da filosofia, pois retirou o foco da investigação filosófica da physis (natureza), para o homem. Antes dele, os chamados filósofos pré-socráticos queriam determinar qual o arqué (princípio) que deu origem a todas as coisas, queriam desvendar a ordem do universo. Mas, para Sócrates antes de tentarmos compreender o mundo que nos cerca, devemos em primeiro lugar, compreender o próprio homem, quem ele realmente é, qual a sua natureza.

A pergunta essencial levantada pelo pensamento socrático é a seguinte: o que é o homem? Para responder a esse questionamento ele se propôs a observar todas as características humanas, objetivando encontrar nelas aquilo que fosse comum a todos os homens, e a conclusão chegada por ele foi que, o homem é a sua psyché (alma = razão), pois a razão é o elemento comum a todos nós, e principalmente, é ela quem nos diferencia de todos os outros seres.

Se a parte essencial do homem é a razão, então ela deve ser colocada sempre em primeiro plano. A razão é quem deve comandar as ações humanas, mas para dirigir essa conduta fazendo sempre as melhores escolhas ela deverá estar bem alimentada pelo conhecimento, pois somente este, proporcionará a eliminação dos erros e das falsas opiniões. Mas, para atingir o conhecimento, Sócrates propõe um método específico de educação, que correspondia a duas etapas principais: a ironia (em grego, “interrogação”) e a maiêutica (em grego, “parto”). Na primeira o filósofo educador através de perguntas inteligentes busca demolir nos discípulos as certezas cristalizadas, o falso saber. Através da ironia chega-se ao reconhecimento do não saber. Para chegar a tal resultado era preciso fazer uma análise interior, o que Sócrates chamava de “Conhece-te a ti mesmo”. O jogo de perguntas e respostas fazia com que aos poucos o interlocutor passasse por um processo de purificação ao eliminar a arrogância e a presunção do saber, abrindo caminho para o segundo passo a maiêutica, ou seja, com o aprofundamento dos questionamentos o indivíduo “dará a luz” a novas idéias que já se encontram no seu íntimo.

A segunda parte do método de educação socrática, a maiêutica, foi inspirada na profissão de sua mãe, uma parteira que ajudava as mulheres grávidas a trazerem à luz as crianças que já se encontravam concebidas em seu ventre. Por isso, a função da parteira é ajudar no processo de nascimento da criança, mas para isso, a mãe deverá contribuir com um grande esforço para que o parto seja bem sucedido.

Portanto, ao fazer uma analogia entre a função do filósofo com a da parteira, Sócrates queria mostrar que a tarefa do educador é de auxiliar, pois para ele, o conhecimento não é algo que vem de fora para dentro, não é o mestre quem ensina ao aluno, em sua concepção ninguém ensina nada a ninguém, por isso, o filósofo educador também é um parteiro. Não um parteiro de corpos, mas de almas, é seu papel auxiliar os discípulos a “darem a luz” as suas próprias idéias, a construírem o seu próprio conhecimento, assim, a função da filosofia seria construir consciências críticas, autônomas, não meros “papagaios de piratas”, repetidores de idéias alheias. Mas, também aqui, é necessário por parte do educando um grande esforço, já que o conhecimento não cai do céu, para construí-lo é preciso amá-lo e desejá-lo.





*É filósofa, professora e vice-presidente da Academia Acriana de Filosofia.







A linguagem psicanalítica

A linguagem psicanalítica




*Guilherme da Silva Cunha



A linguagem psicanalítica se constitui como sendo um saber que “direciona” a linguagem para as várias possibilidades que ajudam o analisando a enfrentar a idéia de que vai morrer. A morte é uma realidade que ainda não é, e quando for, nós já não somos mais para falarmos dela, afirma o velho Epicuro. Enquanto indicação lógica, o enunciado é perfeito. Mas, enquanto representação simbólica, ou operação psíquica, a questão é bem diferente. Principalmente se o sujeito depositar muita crença na palavra; pois, assim, fica mais difícil dele conviver com a idéia de que morrerá.

O método psicanalítico de análise é o da associação livre. Porém o que move a análise é o desejo do analista; pois só ele é capaz de suportar as resistências do analisando através da técnica da interpretação e da escansão, e por intermédio desta técnica, faz com que o paciente chegue à sideração (momento em que o próprio analisando descobre o que mais lhe atormenta em termos de linguagem). Mas para que o analisando chegue a esse momento e a esta descoberta, é preciso que o analista, na plena acepção da palavra, seja realmente analista.

A função do analista não é criticar o analisando. O seu papel é o de ter o espanto e se colocar sempre na posição do sujeito do suposto saber. Pois, de antemão, nenhum psicanalista sabe qual é realmente o problema do seu analisando. Vai ser escutando o paciente que ele descobrirá o problema do último.

O divã é extremamente importante para o paciente; porque o dirige para o olhar e não para a visão. E é bom que se diga que foi o olhar que fundou e funda constantemente a clínica. O olhar é interpretação, interpretação do paciente, e ainda mais, do analista, que tem a função de auxiliar o analisando para que ele percebe seus fantasmas interiores que mais lhe atrapalham em suas ações. Porque, na maioria das vezes, quando não fazemos uma determinada coisa, é porque há algum fantasma nos atrapalhando. E ainda mais, boa parte dos nossos sofrimentos estão ligados intimamente aos nossos fantasmas interiores. O grande exemplo da referida idéia, são as chamadas doenças psicossomáticas que atormentam muita gente.

A psicanálise é a arte do bem dizer. Ela está muito próxima da filosofia; pelo fato de ser um saber que não trabalha com estereotipo e muito menos acredita na idéia de que sujeito tenha uma personalidade fixa como muitos acreditam. Filosofia em alguns casos fala do ideal com sendo real, porque as idéias provocam efeitos em um sujeito real e o pensamento tem o “mágico” poder tornar-se realidade. A psicanálise também faz uma mescla entre o ideal e o real, através da realidade psíquica e da realidade material.

Portanto, a psicanálise e a filosofia formam o seu corpus, através da junção do real e do ideal. Não dá para o sujeito viver só no ideal, como também não daria para se viver só no real. O melhor exemplo que temos vem da psicanálise com a descoberta do aparelho psíquico que ser para amortecer as nossas guerras constantes entre as nossas realidades material e psíquica-ideal.







*É filósofo, membro fundador da Academia de Letras de Sena Madureira e da Academia Acreana de Filosofia, autor das obras: Fragmentos Filosóficos e Poéticos e Dobras Filosóficas, professor da Faculdade Euclides da Cunha e da Escola Estadual de Ensino Médio Heloísa Mourão Marques.