segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ALGUMAS IDEIAS SOBRE O EXISTENCIALISMO ATEU DE SARTRE E HEIDEGGER.

*Maria Ivanilda Souza da Silva



O filósofo francês Jean-Paul Sartre em sua obra “O Existencialismo é um Humanismo”, defende a idéia de que “Se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência, um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito: este ser é o homem”.

Para o existencialismo ateu nada somos antes de nossa existência. Primeiro nascemos depois é que passamos a ser. Não possuímos uma natureza prévia, uma essência já definida, ou melhor, não existe um Deus para conceber no homem essa natureza.

O homem encontra-se lançado no mundo, ele não se constitui como um ser especial, com uma missão a cumprir. O homem encontra-se desamparado, sozinho no mundo, condenado a fazer as suas escolhas e a responsabilizar-se pelas conseqüências destas, não existe pré-determinismo, não existe destino, tudo que o individuo vier a ser será sempre fruto de suas escolhas.

A existência humana se realiza como boa ou ruim, autêntica ou inautêntica dependendo daquilo que o homem faz de si mesmo, do seu engajamento, do seu modo de agir e de se relacionar com a sociedade. Pois ao negar a existência de Deus, o existencialismo não nega a necessidade de uma ética. A boa conduta humana não deve ser fruto de temor em relação ao pecado ou ao inferno, mas direcionada pela consciência da importância do bem agir.

Ao dizer que a existência precede a essência, se quer afirmar que é o homem quem constrói o seu modo de ser a partir do seu existir. A construção do ser do homem se dá na relação com o mundo e com os outros homens. Pois, de acordo com Heidegger, não podemos ser sem os outros, todos os meus projetos de vida só se realizam com a contribuição de alguém, ou seja, para alguém se tornar professor, ele necessariamente precisa de outras pessoas, de vários professores que contribuíram na sua instrução, de vários autores que produziram obras para o aprofundamento de suas pesquisas e de seu saber, e ainda, para ser professor é preciso alunos para que ele venha contribuir com sua formação. Portanto, é perceptível com o exemplo dado, que é impossível ser sem os outros. Assim, como somos seres com os outros, também somos seres no mundo, o que significa dizer que temos que cuidar bem das coisas do mundo, da natureza, do meio ambiente. Mas o mundo só possui um sentido a partir da interpretação humana, o mundo só tem um significado pelo fato de poder ser utilizado como objeto pelos humanos. Por isso, o homem encontra-se envolvido diretamente com as coisas do mundo, nesse sentido, cabe aos indivíduos não apenas interpretá-lo, mas também transformá-lo.

A plena realização do homem se dá ao alcançar a realização de seus objetivos, como o existencialismo rejeita a idéia da existência de um destino pré-determinado, cabe ao homem projetar e construir o seu próprio caminho. A sua realização depende dos projetos de vida que ele concretizar, do engajamento que ele tiver para que isso aconteça. A existência se constitui, nesse sentido, como projeto, o homem será aquilo que ele fizer de si mesmo, e não aquilo que for determinado por um ser superior.

Ao negar a existência de um Deus e de um determinismo, o homem para o existencialismo, é totalmente livre para fazer as suas escolhas, para determinar o que é bom ou ruim para si mesmo e para a humanidade, pois todas as escolhas do individuo não se constituem como um aspecto isolado, mas refletem e influencia de alguma forma na vida de outras pessoas, assim como, aquilo que nós consideramos bom para nós, achamos que serve também para os outros. A liberdade, portanto, implica responsabilidade, se não há um determinismo não tem espaço para desculpas, todas as escolhas humanas são de responsabilidade plena do homem.





*É filosofa, professora e vice- presidente da Academia Acriana de Filosofia