sexta-feira, 28 de maio de 2010

AMIZADE

AMIZADE


*Maria Ivanilda Souza da Silva



A amizade é um elemento essencial na vida de todo ser humano, dificilmente conseguiremos viver sem amigos, nos momentos mais turbulentos de nossa existência é o conforto dos amigos que pode nos apaziguar. Mas podemos dizer que existem várias formas de amizades e para falar sobre essa questão queremos recorrer ao filósofo Aristóteles, que em sua obra Ética a Nicômaco, reserva dois capítulos específicos para abordar o tema.

A amizade na concepção de Aristóteles encontra-se intimamente relacionada a questão da ética, pois ele a considera como uma virtude ou como algo que implica virtude. Mais ainda, a amizade é interpretada por esse filósofo como algo extremamente necessária à vida sendo impossível viver ou atingir a felicidade sem a companhia de verdadeiros amigos. Ninguém em sã consciência escolheria viver sem a companhia deles, até mesmos as pessoas mais ricas precisam de amigos, pois para que serviria o dinheiro, segundo Aristóteles, se não houvesse com quem desfrutá-lo.

Aristóteles considera a amizade como a mais autêntica forma de justiça, pois se estas forem verdadeiras os homens não serão capazes de prejudicar uns aos outros. Os verdadeiros amigos desejam-se o bem mutuamente e tudo aquilo que não querem para si, não desejam também para o outro.

A capacidade de manter uma amizade representa uma nobreza de espírito, principalmente na atualidade, já que vivemos em uma sociedade capitalista, consumista, em que as pessoas valem pelo que tem e não pelo que realmente são. E muitas vezes na ânsia do ter as pessoas, muitas vezes,11 acabam por cima de tudo e de todos. Por esse motivo, quem consegue manter uma amizade verdadeira, com respeito e solidariedade pode ser considerado alguém especial. Mas as amizades fundamentadas em interesses não é algo que existe apenas nos dias de hoje, Aristóteles já a classifica em três tipos específicos: as que se estabelecem com vistas a algum interesse, as que visão o prazer e as que visão o bem ou o bom.

As duas primeiras formas de amizades seriam menos válidas, formas ilusórias de amizade, pois muitas vezes nos aproximamos das pessoas visando algum tipo de interesse particular, principalmente se elas possuem muitos bens materiais ou algum cargo público de destaque dentro da sociedade, ou seja, se o meu amigo é rico eu poderia de alguma forma tirar vantagens dessa relação, usufruindo daquilo que jamais poderia ter. Outro exemplo desse tipo de situação são os políticos que quando estão exercendo o poder encontram-se rodeados de supostos amigos, mas quando perdem o poder vêem-se sozinhos, então percebem que o que tinham não eram amigos, mas apenas bajuladores que desejavam a partir dele alcançar algum beneficio próprio.

A segunda espécie de amizade seria por prazer, isto é, nos relacionamos com as pessoas pelo prazer que a sua companhia nos traz e não por amor a pessoa em si mesma. Muitas vezes nos aproximamos de alguém por este possuir uma conversa agradável, por que nos divertimos em sua companhia, não significando que realmente desejamos o bem para ele ou que nos preocupemos com os problemas que ele tenha em sua vida, podemos dizer que estes são amigos momentâneos e não para toda a vida.

Por fim, a amizade perfeita seria aquela entre duas pessoas boas e virtuosas, que se desejam o bem mutuamente e de forma idêntica. Esse tipo de amizade tende a ser permanente, duradouro, pois ambos possuem qualidades que os amigos deveriam possuir só com ela o homem ama o outro por aquilo que ele é, ou seja, pela sua bondade intrínseca de homem. Mas amizades como estas além de serem raras não se constroem de um momento para o outro, ela vai se edificando aos poucos, elas não são gratuitas devem ser conquistadas.



*É filósofa, professora e vice-presidente da Academia Acreana de Filosofia.

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