A linguagem psicanalítica
*Guilherme da Silva Cunha
A linguagem psicanalítica se constitui como sendo um saber que “direciona” a linguagem para as várias possibilidades que ajudam o analisando a enfrentar a idéia de que vai morrer. A morte é uma realidade que ainda não é, e quando for, nós já não somos mais para falarmos dela, afirma o velho Epicuro. Enquanto indicação lógica, o enunciado é perfeito. Mas, enquanto representação simbólica, ou operação psíquica, a questão é bem diferente. Principalmente se o sujeito depositar muita crença na palavra; pois, assim, fica mais difícil dele conviver com a idéia de que morrerá.
O método psicanalítico de análise é o da associação livre. Porém o que move a análise é o desejo do analista; pois só ele é capaz de suportar as resistências do analisando através da técnica da interpretação e da escansão, e por intermédio desta técnica, faz com que o paciente chegue à sideração (momento em que o próprio analisando descobre o que mais lhe atormenta em termos de linguagem). Mas para que o analisando chegue a esse momento e a esta descoberta, é preciso que o analista, na plena acepção da palavra, seja realmente analista.
A função do analista não é criticar o analisando. O seu papel é o de ter o espanto e se colocar sempre na posição do sujeito do suposto saber. Pois, de antemão, nenhum psicanalista sabe qual é realmente o problema do seu analisando. Vai ser escutando o paciente que ele descobrirá o problema do último.
O divã é extremamente importante para o paciente; porque o dirige para o olhar e não para a visão. E é bom que se diga que foi o olhar que fundou e funda constantemente a clínica. O olhar é interpretação, interpretação do paciente, e ainda mais, do analista, que tem a função de auxiliar o analisando para que ele percebe seus fantasmas interiores que mais lhe atrapalham em suas ações. Porque, na maioria das vezes, quando não fazemos uma determinada coisa, é porque há algum fantasma nos atrapalhando. E ainda mais, boa parte dos nossos sofrimentos estão ligados intimamente aos nossos fantasmas interiores. O grande exemplo da referida idéia, são as chamadas doenças psicossomáticas que atormentam muita gente.
A psicanálise é a arte do bem dizer. Ela está muito próxima da filosofia; pelo fato de ser um saber que não trabalha com estereotipo e muito menos acredita na idéia de que sujeito tenha uma personalidade fixa como muitos acreditam. Filosofia em alguns casos fala do ideal com sendo real, porque as idéias provocam efeitos em um sujeito real e o pensamento tem o “mágico” poder tornar-se realidade. A psicanálise também faz uma mescla entre o ideal e o real, através da realidade psíquica e da realidade material.
Portanto, a psicanálise e a filosofia formam o seu corpus, através da junção do real e do ideal. Não dá para o sujeito viver só no ideal, como também não daria para se viver só no real. O melhor exemplo que temos vem da psicanálise com a descoberta do aparelho psíquico que ser para amortecer as nossas guerras constantes entre as nossas realidades material e psíquica-ideal.
*É filósofo, membro fundador da Academia de Letras de Sena Madureira e da Academia Acreana de Filosofia, autor das obras: Fragmentos Filosóficos e Poéticos e Dobras Filosóficas, professor da Faculdade Euclides da Cunha e da Escola Estadual de Ensino Médio Heloísa Mourão Marques.
Embora não transite com desenvoltura na área da psicanálise,interesso-me pelo tema. Sou filósofa também. Parabéns pelo artigo. Um abraço desde os pampas gaúchos. Ivone www.pensareedu.com
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